domingo, 14 de junho de 2020

Mundo Pós-Pandemia

Este poema foi escrito originalmente para o edital Arte como Respiro, promovido pelo ItaúCultural, que tinha como tema a vida pós-pandemia. A versão publicada aqui difere do poema enviado, o qual não foi selecionado, mas preserva sua essência.

Mundo Pós-Pandemia

Como será o mundo pós-pandemia?
Um espelho do que antes dela existia?

O vírus da desigualdade alarmante
Nega esgoto tratado e água encanada
Espreme no mesmo quarto, no mesmo instante,
Toda a gente ali aglomerada
Sem privacidade nem privada
Como dizer pra essa gente:
- Lava a mão, fica isolada?

O vírus da indiferença mata mais
O isolamento que na pandemia salva
Não é o dos mudos muros que separam
Os que podem dos que não podem
Atender ao pedido:
- Fica em casa.

O vírus da ganância é letal
Tira do público o hospital
Sem UTI ou EPI
Sem dinheiro nem enfermeiro
O pobre é quem morre primeiro.

O vírus da ignorância nega ao final
Dados e crescimento exponencial
Mascara fatos, ignora máscaras,
Enquanto números chegam ao ápice
E nomes chegam às lápides.

Mesmo depois da vacina
Só todos os vírus tratados
Criam algo pra ser chamado
De mundo pós-pandemia.