quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sociedade de consumo


Sociedade de consumo

É preciso ter para poder ser,
comprar para poder viver.
Trabalhar é preciso
e consumir também é.

Produzir, produzir, produzir ...
Consumir, consumir, consumir...
Descartar, descartar, descartar...

Desperdício e austeridade,
do excesso, surge a necessidade.
Se aqui sobra ali falta,
enquanto um morre outro mata.

O consumo é desenfreado
e o que mal foi usado
logo é descartado
e vira lixo
gera lixo
gira lixo
volta lixo
muito lixo
cada vez mais lixo
e o pior lixo
o menos valorizado
que à natureza
causa mais dano
é,
sem sombra de dúvida,
o lixo humano.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Maledicência


Maledicência

Que não saia da tua boca
qualquer frase
que seja oca.

Ou pior,
que esteja cheia
do veneno da língua bifurcada,
pois a palavra
nos foi dada,
ou emprestada,
para no bem
ser usada.

Os olhos que se ocupam
vigiando a vida alheia
esquecem-se de enxergar
as cores que a luz do sol semeia.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Curiosidade


Curiosidade

O que dizem as más línguas sobre mim
não é da minha conta,
mesmo assim
me conta.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Com quem andas


Com quem andas

Não sou uma pessoa inteligente
e se assim pareço
é que estou cercado delas.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Intensamente


Intensamente

Um homem acreditou, o outro creu.
Um homem sofreu, o outro gemeu.
Um homem meditou, o outro transcendeu.
Um homem enxergou, o outro viu.
Um homem planejou, o outro sonhou.
Um homem quis, o outro agiu.
Um homem tolerou, o outro entendeu.
Um homem sentiu, o outro amou.
Um homem existiu, o outro viveu.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Mão materna


Mão materna

Quão terna é
a mão materna
que ante o sofrimento
desesperado
do próprio filho
todo por dentro
já estraçalhado,
entre tormentos
e mutilado,
suporta o peso
extrapolado
e imensurável
de toda a dor
que traz pra si.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Fome


Fome

O pão partido,
já repartido,
já tão mirrado,
tão dividido,
na escassa mesa,
precisa ainda,
mesmo miúdo,
aparecer
multiplicado.

domingo, 9 de setembro de 2012

Poeta


Poeta

Toma o lápis
e com ele escreve
belas palavras
de amorosas linhas
a consolar
os corações,
transformando
letras secas
em lindas canções.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Função do verso


Função do verso

O homem tranquilo,
já inspirado,
ouve o ditado,
tranquilizando
em belos versos
o intranquilo
homem agitado.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Moral


Moral

A moral cega,
que não reflete,
que sempre nega,
que nunca cede,
nem nunca esquece,
é moral seca,
própria dos vermes
que parasitam
quem quer viver.

A moral plena,
que não renega,
que sempre lembra,
e é indulgente,
está sempre a espera
que amadureça
tanta dureza
no amanhecer.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Leve pena


Leve pena

A leve pena erguida
na mão serena
toma da tinta e a distribui
em branca folha.

E escrevendo sobre a dureza
de tantas penas
sempre relembra
o quanto é leve
embora extrema.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Novos tempos


Novos tempos

A moral imoral destes teus tempos
engana os tolos
e os desatentos.
Mas se refletes
que sempre é tempo,
verás em tempo,
os novos tempos.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ditado


Ditado

O lápis escreve
no compasso descompassado
de uma mente sem sentido
e o verbo conjugado
expressa um tempo não vivido.

Assim, no papel,
escorrem palavras sem juízo
que querem dizer o que foi dito.

Dito um dito,
bendito dito,
maldito dito.
Mal dito o dito
e o já dito dito,
enfim ditado,
se converte
em mero dito.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O autor


O autor

Quem és tu
que pensas que escreves?
Onde mora tua inspiração?
Em ti a creste?!
Creio que não!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

terça-feira, 3 de julho de 2012

Teo


Teo

Poderoso Odin!
Poderoso Alá!
Poderoso Rá!
Ou será Jeová?

Não importa quem,
nem que nome dá,
Deus é sempre Deus
a nos abençoar.

Não importa que nome você dá
Se com fé pedir
Ele atenderá.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Rancor


Rancor

Ó amarga flor,
qual será tua cor?
O vermelho da ira que te evoca
ou o azul do frio que tu provocas.

Bem regada com o orgulho,
profundas raízes tu fincas,
no coração que tu sufocas.

Ó triste flor envenenada,
teu único fruto é a dor corrosiva,
que corrói famílias
e amizades antigas,
num emaranhado de confusões e intrigas.

Teus frutos apodrecem em feridas
que atingem almas inocentes,
porque teu perfume embriaga
e torna tua razão inconsequente.

E quando,
no calor do conflito,
dito é aquilo
que nunca devia ter sido dito.
E a infeliz promessa é colocada
de que tal mágoa
para sempre será lembrada,
cabe lembrar também
que o orgulho
nunca fez feliz ninguém,
pois, enquanto a língua mordida cicatriza,
um coração envenenado
simplesmente
agoniza.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Sonho Freireano


Sonho Freireano 


Opressor que oprime o oprimido.
Oprimido que guarda o opressor.
Não se liberta ninguém da prisão
Com instrumentos da opressão.

O opressor se destrói na criança,
e noutra idade inda há esperança.
Não é com ódio ou com vingança,
é com amor e educação
que se equilibra esta balança.

Mas não um amor passivo!
É preciso que seja ativo.
Não deve ser submisso,
deve ser subversivo.

Subvertendo a ordem injusta,
da fome ante a opulência.
Negando a obediência
que aos mais fracos custa,
quando é cega e conformada.

Mas eis que seguindo inconformada,
a criatura inconclusa,
vislumbra a liberdade,
mesmo de início confusa.

E a dúvida impulsiona o medo.
Mesmo com medo o homem segue,
com medo que o companheiro o negue
na luta que ainda prossegue.

Tentarão calar homens e mulheres,
mas o diálogo produz
em cada boca uma luz,
num questionamento que conduz,
a compreensão de que sua cruz
não pesa menos que a de Jesus.

Descobrindo-se em comunhão
como seres da criação
que foram vítimas da opressão
marcham juntos na direção
de sua libertação.

E estes iguais, tão diferentes,
caminham conscientes,
críticos e pacientes,
numa luta permanente
por uma vida mais decente.

E se tudo não passar de um sonho,
companheiros, eu proponho,
sonhemos juntos, não sós,
ou outros sonharão por nós.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Tropeço


Tropeço


O meu equilíbrio é desequilibrado,
e quando está tudo bem
eu busco algo de errado.

Minha vida é um grande vai e vem,
mas eu fico aqui parado,
pois pensando bem,
nem eu mesmo estou do meu lado.

Mas para que cantar a desgraça?
A felicidade é uma graça.
A graça de achar graça do que não tem graça.

Quero ser rico e pobre,
ser plebeu e nobre.
Quero ser bom.
Quero ser mau.
Quero ser pedra e pau.
Chega de hipocrisia,
angustiar-me é minha sina,
meu mundo é de fantasia
ninguém me determina.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Demopotismo


Demopotismo


Quando a palavra dada vale menos
do que a folha assinada
e a ambição difundida
domina a saída e a entrada.
Quando a democracia aceita os subornos
vindos da autocracia
e o povo segue cego pelos adornos
do invisível sistema que governa,
cuidado com golpes na perna!
Pois na oculta ditadura
há homens sem palavra
que, só com uma assinatura,
tiram a comida da boca
dos filhos do homem que lavra.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Mestre


Mestre


Enquanto o inacessível homem põe-se a frente,
munido de um poder que é inumano,
olham em volta, pávidos, com espanto,
pequenos olhos a glorificar com encanto.

Assim vê o discípulo seu mestre.
Aquele gigante colocado logo adiante,
voz de trovão, tão grave e retumbante,
regando a flor que nasce em pleno agreste.

E este poder que vem sei lá de onde,
transfigurando o que era então apenas homem,
cria uma imagem ignorada tão somente
por aquele que detém o tal poder.

Porém por trás deste colosso,
eis que reside realmente um outro ser.
Um sujeito que alguém já não conhece.
Um grande professor já não se vê.

É o anônimo sujeito ali escondido.
O pai, o filho, irmão, marido.
Tão humano que ninguém podia crer.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Fôrma


Fôrma


Quero um poema de formas,
num mundo onde as formas importam.
Quero um poema com as formas do mundo,
com as formas que incomodam
aqueles que as formas formam.

Quero mostrar estas formas amorfas
dos nenéns abortados
por nossa sociedade hipócrita.
Tanto os nenéns que nasceram,
quanto os que antes de nascer morreram.

Uma massa gigantesca, chamada humanidade,
jogada na fôrma de um mundo
cheio de perversidade.
A fôrma redonda da história
do escravo, do servo, do assalariado,
do seu dono, do seu senhor, do seu patrão.
Explorando ou sendo explorado,
manter uma forma, um só padrão.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Reparando Asas


Reparando Asas


Não regues a planta
com a água que tu bebes,
pois nada suplanta
a vontade que a ti deves.

O amor não é anaeróbio,
nem é justo transformar um pássaro em micróbio.

Que valor o canto tem, aprisionado o vôo?
Asas aparadas, mais um canto que não entôo.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Burocracia


Burocracia

Cada processo deveria ter um rosto,
trazer as mãos do agricultor,
o corpo adoecido da criança,
o cubículo em que se encontra o prisioneiro,
a angústia do olhar de quem espera.

Cada processo é uma vida,
tal como a vida é um processo,
mas que não o seja
o de papéis empilhados,
amarelados e esquecidos,
amontoados, envelhecidos,
em algum canto deixados
para nunca mais serem tocados.

Enquanto aumenta a pilha aos montes
por preguiça ou intencional conveniência,
ocorre que ninguém toma ciência
de que as mãos não aram,
e assim as bocas não mastigam,
de que pequenos corações param,
e assim muitas mães lastimam,
de que os acusados mofam,
e assim tudo aquilo que estimam,
de que a angústia aumenta
eliminando vidas.

O poema tem mais a dizer,
mas falta ainda um memorando,
em cinco vias,
solicitando à vida
algumas rimas.

terça-feira, 8 de maio de 2012

CMXCIX


CMXCIX


Eu sou o Ser por Essência.
O Verbo.
Conjugado em todos os tempos
e em todos os tempos
estou.

Refletido no espelho,
na boca que canta,
e também na que geme.

Eu sei o porque do por quê.
Porque há guerra.
Porque há fome.
Porque a dor
que te consome.

Eu quantifico
as estrelas do céu,
os grão de areia da praia,
as gotas d’água do oceano,
as folhas que caem no outono.

Minha forma é amorfa,
o meu cheiro inodoro,
meu gosto é insípido,
minha cor incolor,
minha voz não produz som,
meu tato é insensível.

O tempo para mim não passa,
nem rápida, nem lentamente.
Ele não passa.
Eu o controlo.
Nele estou.
Dele me isolo.

Minha forma amorfa tem a forma do mundo.
Cheiro como todas as flores.
Tenho o gosto das coisas.
É fácil me ouvir
na explosão do silêncio.
Eu estou
aqui.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Abracadabra


Abracadabra


Se a vida não houvesse visto
eu a diria impossível.
Mas depois de ter visto e revisto,
com acabamento de perfeição,
um colosso girando em um ponto,
vagando na imensidão.
Eu agora me questiono:
Noutro lugar por que não?

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Angústia


Angústia


Não sou bom,
nem por isso mato,
nem por isso roubo,
nem por isso minto.

Não sei se sou mau,
mas bom,
não, eu não sou.

Sou um daqueles homens
a quem a esmola envergonha,
quando peço,
quando nego,
quando dou.

Sou um daqueles homens
a quem a miséria do mundo incomoda,
e incomoda tanto mais,
quanto mais a vejo.
Enfim, sou um homem,
como todo homem,
angustiado,
por ver a pobreza ao lado,
e por ficar calado.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Coisificação


Coisificação


A coisa que o coisinha me disse
coisou com alguma coisa em mim.
Uma coisa que ninguém resiste
é coisar com as coisas assim.

sábado, 14 de abril de 2012

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Olhando as estrelas


Olhando as estrelas


Sinto que o Universo é infinito,
embora não possa prová-lo.
E que o limite dos limites
é o ilimitado.
Crendo:
tudo saberemos,
sem nunca sabermos tudo.

Hoje não sabemos
sequer onde estamos.
Ainda assim queremos saber:
de onde viemos
e para onde vamos?

sábado, 7 de abril de 2012

Paixão desconhecida


Paixão desconhecida


Não sei,
definitivamente não sei.
Não sei se és bela ou feia,
se tua pele é macia como a juventude
ou se traz as rugas de uma vida rude.

Também não sei
se a tua vida é desregrada
ou exemplo de beatitude.

Não sei se és pobre ou rica,
séria ou extrovertida,
prestativa ou exigente,
de simples fala ou erudita.
Nada disso me interessa,
mas não vou mentir,
eu tenho pressa.

Quero fazer amor contigo,
mesmo sem saber,
se compartilhas de tal desejo comigo.
Se não, tudo bem,
basta-me adormecer e amanhecer contigo.
Do contrário,
fico feliz em ouvir tuas palavras,
seja tua voz rouca ou delicada.
Mas se preferes ficar calada,
resta-me ainda o teu sorriso,
e se dele me privas,
eu com pouco me contento,
quero apenas ler teus pensamentos,
adentrar em teus sonhos,
e me encontrar ao teu lado
nos teus mais caros momentos.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Mulher


Mulher


Mulher,
para ti um dia só não bastaria,
mereces mais do que um dia,
todas as noites,
todos os dias,
todos os sonhos
e alegrias.

domingo, 1 de abril de 2012

Verde, amarelo, azul e branco


Verde, amarelo, azul e branco


Homens desta terra chamada Brasil,
de povo sofrido, de governo vil,
de que vale tão bela bandeira
se por trás dela se esconde tamanha sujeira.

Vejo o teu verde recoberto
pelo losango amarelo,
não mais da cor do ouro
e sim de um quente deserto,
fruto de um desmatamento,
que é fruto da ambição por certo.

O branco de tua paz
infelizmente me traz
a mente muita revolta,
pelo sangue que corre,
vindo das favelas em volta.

E o céu azul,
que em ti vejo estrelado,
assistiu teu triste passado,
entre prantos vê teu presente,
e não quer ver teu futuro
arruinado.

sábado, 31 de março de 2012

Retas tortuosas


Retas tortuosas


Enfim escrevo
versos tortuosos de um tortuoso autor,
porque percebo
qual a tortura
que causa agora
esta infinita dor,
pois que concebo
que ela destrói
pra construir o Amor.

Autor Maior,
escreves certo em linhas tortas,
desde as eras mais remotas
até as insondáveis portas
que se escondem atrás das notas
que não paras de tocar.

quinta-feira, 29 de março de 2012

O mendigo


O mendigo

Como é desprezível
ver uma mão
tantas vezes estendida.

Mas mais desprezível
é ver que num mundo insesível
isso transforma
quem a estende
em um homem invisível.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Posse


Posse


Como vou temer a perda
daquilo que não me pertence?
Pode ser que eu me arrependa,
ou mesmo,
que eu fique contente.

terça-feira, 27 de março de 2012

Um poema de amor


Um poema de amor

Amor é desprender-se de si mesmo.
É caminhar dentro do inferno a esmo,
trazendo em si o próprio paraíso,
por transformar o que era choro em riso.

É sono! É frio! É fome! É dor! É medo!
Ao mesmo tempo é pluma e é rochedo.
É o sacrifício feito ao companheiro.
O antiegoísmo de doar-se por inteiro.

É olhar um homem e ver um irmão,
tratando bem sem para isso ter razão,
cuidando sem ao menos questionar.

O amor é cego, mas não surdo, com certeza!
Não procura beleza, nem fama, nem riqueza.
Talvez por isso ninguém o possa aprisionar.