segunda-feira, 25 de junho de 2012

Rancor


Rancor

Ó amarga flor,
qual será tua cor?
O vermelho da ira que te evoca
ou o azul do frio que tu provocas.

Bem regada com o orgulho,
profundas raízes tu fincas,
no coração que tu sufocas.

Ó triste flor envenenada,
teu único fruto é a dor corrosiva,
que corrói famílias
e amizades antigas,
num emaranhado de confusões e intrigas.

Teus frutos apodrecem em feridas
que atingem almas inocentes,
porque teu perfume embriaga
e torna tua razão inconsequente.

E quando,
no calor do conflito,
dito é aquilo
que nunca devia ter sido dito.
E a infeliz promessa é colocada
de que tal mágoa
para sempre será lembrada,
cabe lembrar também
que o orgulho
nunca fez feliz ninguém,
pois, enquanto a língua mordida cicatriza,
um coração envenenado
simplesmente
agoniza.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Sonho Freireano


Sonho Freireano 


Opressor que oprime o oprimido.
Oprimido que guarda o opressor.
Não se liberta ninguém da prisão
Com instrumentos da opressão.

O opressor se destrói na criança,
e noutra idade inda há esperança.
Não é com ódio ou com vingança,
é com amor e educação
que se equilibra esta balança.

Mas não um amor passivo!
É preciso que seja ativo.
Não deve ser submisso,
deve ser subversivo.

Subvertendo a ordem injusta,
da fome ante a opulência.
Negando a obediência
que aos mais fracos custa,
quando é cega e conformada.

Mas eis que seguindo inconformada,
a criatura inconclusa,
vislumbra a liberdade,
mesmo de início confusa.

E a dúvida impulsiona o medo.
Mesmo com medo o homem segue,
com medo que o companheiro o negue
na luta que ainda prossegue.

Tentarão calar homens e mulheres,
mas o diálogo produz
em cada boca uma luz,
num questionamento que conduz,
a compreensão de que sua cruz
não pesa menos que a de Jesus.

Descobrindo-se em comunhão
como seres da criação
que foram vítimas da opressão
marcham juntos na direção
de sua libertação.

E estes iguais, tão diferentes,
caminham conscientes,
críticos e pacientes,
numa luta permanente
por uma vida mais decente.

E se tudo não passar de um sonho,
companheiros, eu proponho,
sonhemos juntos, não sós,
ou outros sonharão por nós.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Tropeço


Tropeço


O meu equilíbrio é desequilibrado,
e quando está tudo bem
eu busco algo de errado.

Minha vida é um grande vai e vem,
mas eu fico aqui parado,
pois pensando bem,
nem eu mesmo estou do meu lado.

Mas para que cantar a desgraça?
A felicidade é uma graça.
A graça de achar graça do que não tem graça.

Quero ser rico e pobre,
ser plebeu e nobre.
Quero ser bom.
Quero ser mau.
Quero ser pedra e pau.
Chega de hipocrisia,
angustiar-me é minha sina,
meu mundo é de fantasia
ninguém me determina.