segunda-feira, 14 de maio de 2012

Burocracia


Burocracia

Cada processo deveria ter um rosto,
trazer as mãos do agricultor,
o corpo adoecido da criança,
o cubículo em que se encontra o prisioneiro,
a angústia do olhar de quem espera.

Cada processo é uma vida,
tal como a vida é um processo,
mas que não o seja
o de papéis empilhados,
amarelados e esquecidos,
amontoados, envelhecidos,
em algum canto deixados
para nunca mais serem tocados.

Enquanto aumenta a pilha aos montes
por preguiça ou intencional conveniência,
ocorre que ninguém toma ciência
de que as mãos não aram,
e assim as bocas não mastigam,
de que pequenos corações param,
e assim muitas mães lastimam,
de que os acusados mofam,
e assim tudo aquilo que estimam,
de que a angústia aumenta
eliminando vidas.

O poema tem mais a dizer,
mas falta ainda um memorando,
em cinco vias,
solicitando à vida
algumas rimas.

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